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14 maio 2012

O ENDEUSAMENTO DA IMPRENSA PELA IMPRENSA

Não é de hoje que muitos teóricos qualificam a imprensa de 4º Poder, outros lhe dão o título de 1º Poder e são várias as justificativas que não cabe aqui enumerá-las. Mas se justifica afirmar que muito se dá pelo poder que tem a mídia de, muito além de informar, manipular a opinião a ponto de ditar regras de comportamento e influenciar as escolhas da sociedade. Quem não lembra da eleição do ex-presidente Collor e do posterior processo de impugnação de mandato, Impeachment, que culminou com a renúncia do mesmo? Muitos comentaristas argumentam que a Globo foi determinante para a vitória do candidato, principalmente por conta da edição do último debate entre Collor e Lula que foi veiculado no Jornal Nacional que teria beneficiado o primeiro. Quanto ao impeachment, a própria sociedade é consciente para afirmar que a Globo foi determinante para o processo de impedimento e que os alardeados “caras-pintadas”, tidos como heróis nacionais, não passaram de massa de manobra daquela, que na época, era a principal emissora do país. 

Faço esse prólogo para entrar no assunto que hoje é pauta nos principais meios de comunicação oficial e nas mídias sociais, o caso da ligação entre um dos diretores da revista Veja e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Não vou entrar no mérito da questão se a revista tem credibilidade ou não, mesmo porque isso seria um dissenso da minha parte, falaria baseado no que ouço falarem, pois não sou leitor, assíduo, da revista e não teria autoridade para questionar o seu conteúdo. Nem tampouco iria nivelar por baixo todos os profissionais daquela instituição, jogando-os na mesma sarjeta profissionais sérios e sujeitos inescrupulosos. 

De início evoco a afirmação do deputado Federal, Fernando Ferro (PT-PE) dada à equipe de reportagem do Domingo Espetacular da Tv Record (Assista ao vídeo) que foi ao ar neste domingo (13/05): “Aqui no Brasil de repente se parece como se fosse coisa de outro mundo, um diretor de uma revista, ou o dono de um conglomerado desse ser chamado. Essa elite que fica numa blindagem, que não pode ser... O que que é isso? A democracia e a lei tem que valer pra todos”. 


Vou tomar apenas o início da “admiração” atribuída por ele à população brasileira, mas vou desvirtuar e levá-la para a própria imprensa, que parece estar surpresa com os casos de falta de ética de (alguns) profissionais da própria imprensa. Contrário à repercussão dada neste momento ao comportamento imoral do diretor da Veja, temos que ter a consciência de que há maus profissionais em todas as esferas e que na imprensa, não é diferente, está muito longe de termos só santos, e muito longe mesmo. 

Volto ao título deste post, o endeusamento da imprensa pela própria imprensa. 

As nossas editorias de jornais (televisivos, de jornais impressos, rádios, blogs, etc) são formadas por seres humanos que vivem num país com visão extremamente capitalista que prega a aquisição de bens e riquezas a qualquer custo, terreno fértil para a corrupção. O esquema que envolve o diretor da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e o Carlinhos Cachoeira é apenas mais um exemplo de manipulação de informação por parte das mídias, e não falo apenas das oficiais, as mídias sociais também fazem uso deste recurso, podendo não ser objetivando recursos financeiros, mas benefícios ideológicos. Mas a questão posta em voga é estritamente a (falta de) ética no jornalismo. Assunto hoje tão discutido nos meios acadêmicos. 

Quem não conhece um jornalista que exerce sua função em rádio, revista, tv, site ou blog e é assessor de um político? Isso é ético? Como pode ser imparcial se ao mesmo tempo em que trabalha a imagem desse cidadão tem a obrigação de fiscalizar (como jornalista) a conduta desse mesmo sujeito? Além disso, essa prática é proibida pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros que proíbe que, como repórter contratado de algum jornal, o jornalista escreva sobre o órgão em que também seja contratado como assessor (artigo 7.º, inciso VI), o que na prática não funciona. Quem não sabe que quase 100% dos meios de comunicação (oficial) são de propriedade de políticos ou de pessoas ligadas a eles, e que a editoria dessas mídias passam pela aprovação (ou desaprovação) dos seus proprietários? E que até mesmo as rádios, ditas comunitárias, estão a serviço de políticos? Quem trabalha em um meio de comunicação sabe que aquela famigerada pratica chamada censura ainda hoje existe um pouco mais floreada com o título de autocensura, mesmo para aqueles profissionais que se dizem sério e que buscam a todo custo ser éticos. 

O que reina na imprensa, infelizmente, é a hipocrisia; é um faz de conta; é a própria “Demagogia da Imprensa” que a prega como a injustiçada quando atacada, mas que se utiliza de seu poder e influencia para atacar quem não “reza na sua cartilha”, acusando, intimidando, ou chantageando, mesmo que de forma velada, mascarada. 

O corporativismo impede com que se crie um Conselho de Jornalismo, ou melhor, um Conselho de Imprensa que julgue os atos reprováveis e vergonhosos desses profissionais e os puna exemplarmente, da mesma forma que ocorre com outros Conselhos, como o de Medicina. Pois teme que seja cerceado o seu direito de falar o que quer que seja, quando quiser, a hora que quer, e de quem quer que seja. 

A imprensa cria, para a população e para si, a falsa ilusão de que os jornalistas não mentem, que são imparciais, que tem total preocupação com o interesse público, que são incorruptíveis, que obedecem as leis cegamente, mesmo quando essas leis são criadas para uma auto regulamentação, se colocam na condição de semideuses. Na verdade há muitos profissionais sérios, acredito que a grande maioria, que tenta fazer o seu trabalho isento cumprindo a função social de fiscalizar os poderes instituídos e a própria sociedade como um todo. Jornalistas que trabalham para responder as perguntas que todo cidadão tem o direito de fazer. Mas há uma parcela que funciona como uma maça podre que apodrece todas as outras, ou que denigrem ou maculam a imagem de toda uma classe. 

Assim, como disse o deputado Fernando Ferro, “a democracia e a lei tem que valer pra todos”, dos donos dos grandes conglomerados, como a todos os profissionais de comunicação, independente do tamanho da empresa que trabalhem. Se há que tirar a blindagem e tratar a todos como iguais, susceptíveis a erros, e que no caso da transgressão das leis ser julgado como a lei exige e punido como a justiça determinar.