Por: Emerson Marinho*
Falar da Globo
e sua intimidade de uso do discurso para manipulação da informação é tratar do
óbvio, porquanto já foi protagonista de tantos exemplos recentes na história da
nova república repetidos à exaustão nos estudos acadêmicos no interior das
academias que tratam de comunicação e até mesmo entre aqueles, pouco letrados,
mas interessados nas histórias obscuras dos nossos meios formais de comunicação
social. Evitando ser prolixo cita-se o episódio da eleição do primeiro
presidente por voto direto, ou ser uma das grandes responsáveis pelos dois
casos de impeachment do nosso país, nos dois estremos da nossa recente história
de democracia. Entretanto, é salutar apresentar um exemplo recente de
manipulação de notícia com fato externo ao nosso território. Não há aqui um
estudo de caso, com dados explicativos que testifiquem as informações aqui
prestadas, mas observações que podem ser constatadas por qualquer leigo que se
interesse por política partidária, ou mesmo em história contemporânea.
Há um ditado popular
entre aqueles que se interessam por jogos: quem
vê melhor é quem está de fora. A eleição para presidente nos EUA serve como uma
excelente oportunidade para fazer uso desta máxima.
Quem acompanhou
os telejornais globais e suas coberturas das eleições norte americanas, semanas
antes do grande dia, deve lembrar como os dois candidatos eram abordados:
Donald Trump foi mostrado como um ser desprezível, arrogante, misógino,
racista, xenófobo e até mesmo louco. A tentativa de deturpar a imagem dele
levou a colocá-lo contra imigrantes, pobres, e até contra as próprias políticas
nacionais e mesmo internacionais. Por fim, os colocou contra as mulheres, tendo
sua principal representante a Hilary Clinton, que foi apresentada como uma
mulher injustiçada, agredida por alguém bruto que lhe atinge em sua natureza
feminina. Hilary, ainda que injustiçada, era a mulher que mais representava as
ideias progressistas para manter o país como a principal potência mundial e a
esperança de manter a ordem econômica mundial.
As semanas
passam e a proximidade da eleição mais abre hiatos que congruência entre o
discurso dos telejornais da Globo e o resultado das pesquisas de intenções de
voto para presidente dos EUA: se o candidato é tão desprezível e despreparado
para assumir a presidência, por quê o candidato tem quase metade da preferência
do eleitorado? Das duas uma: ou o povo americano era irresponsável para
escolher um ser vil, miserável para assumir o principal cargo no país e quiçá,
no mundo, ou as informações passadas pela Globo estavam deturpadas.
Com a
proximidade do dia da eleição, e as pesquisas apontando a possibilidade do
republicano vencer o pleito, ainda que a Globo não aceitasse isso como fato, tenta
ajustar o discurso e passa a mostrar a Hilary como uma mulher nem tão preparada
para assumir o cargo. O discurso apresentado no Jornal da Globo, véspera da
eleição, já anunciava uma disputa acirrada e não tão certa com a vitória da
Democrata, ou mesmo, o que não era cogitado, a derrota da preferida da emissora.
Talvez não fique tão claro para os leigos as razões e interesses da emissora
global pela preferência à candidata (isso daria assunto para outro post), mas o
certo é que ela vai ter que engolir o Donald Trump.
De volta ao Brasil,
dois dias depois de cobrir in loco as
eleições americanas, o apresentador do Jornal da Globo, William Waack, em um
dos blocos conversa com o narrador esportivo, Luís Roberto, indagando em tom melancólico,
carregado de decepção, quais seriam os prognósticos sobre o campeonato
brasileiro, já que seria mais fácil analisar o campeonato brasileiro que a
política, dando a entender que jamais esperavam por aquele desfecho.
Com a mudança
do discurso radical do Trump para um discurso mais conciliador, a Globo tenta
atenuar o seu, mas ainda carrega o mesmo ódio que guarda da esquerda brasileira
que lhe tirou a oportunidade de continuar fazendo uso indiscriminado dos
recursos publicitários que tanto foram necessários para a manutenção da rede de
comunicação como a maior da América Latina e uma das cinco maiores do mundo. Como
as teorias, as história nunca se fecham e estão o tempo todo em constante
mudanças ou ajustamentos. Se pode constatar os fatos aqui expostos e o
desenrolar e o ajustamento ou não do discurso da Rede Globo ao momento político
nos telejornais da Globo, isso se alguém tiver estômago para encarar o discurso
tendencioso, parcial e carregado de ódio por aqueles que se colocam contra a
sua hegemonia.
*Bacharel em Comunicação
Social