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06 julho 2013

O GIGANTE ACORDOU. E AGORA?

Há algumas semanas, os meios de comunicação além de sites, blogs e ferramentas sociais, estampavam em suas páginas, notícias das manifestações populares que se espalharam por todo o território nacional. Uma das frases mais repetidas em cartazes e mesmo nos gritos de ordem era: O Gigante Acordou, uma referência aos versos do Hino Nacional Brasileiro: “Gigante pela própria natureza” e “Deitado eternamente em berço esplendido”.

O brado, ouvido nas ruas de São Paulo, foi um “grito de basta” de quem não aguentava mais tamanha afronta e falta de respeito ao cidadão. Acreditava-se ser mais um dentre tantos outros que passam quase despercebidos nos telejornais. A poderosa Rede Globo por meio do seu comentarista, Arnaldo Jabor, apressou-se em afirmar que o ato era promovido por playboyzinhos irresponsáveis da classe média, com o simples intuito de promover baderna. Dois dias depois foi obrigado a se retratar admitindo que o movimento era uma “inquietação tardia” comparando-o com o dos Caras Pintadas.

Após várias semanas de movimento e das cenas de quebra-quebra que a grande mídia fez questão de acentuar (mesmo ressalvando que era apenas uma pequena parcela dos manifestantes, os “baderneiros”) muitos veem o movimento com desconfiança. Acéfala e desorganizada, as passeatas se espalham pelo Brasil, como um tsunami, entretanto, se perde em meio a tantas reivindicações, a mobilizações sem pauta definida e sem saber qual o poder que o povo realmente tem.

O Movimento do Passe Livre ao declarar o fim das mobilizações, após o governo abaixar o preço da tarifa, talvez com a intenção de sair com o nome da instituição fortalecido, joga um balde de água fria no fogo “figurado” das manifestações. Se a intenção era arrefecer o vigor da massa, o objetivo não obtém logro, não desmobiliza o povo, que ainda sai às ruas para reivindicar melhorias nos serviços públicos.

O Gigante acordou, mas acordou atordoado, analfabeto por falta de professores qualificados e bem remunerados; por escolas sucateadas, sem carteiras, material didático e estrutura física precária. O Gigante hoje é “apolitizado” se intitula apartidário, e contra as bandeiras de quem há muito tempo discute as necessidades dos brasileiros e sabe o que é possível fazer e a quem cobrar para ver as suas reivindicações atendidas. O temor não é aos politizados, é aos políticos corruptos que amedrontados com o clamor das ruas, busca aprovar leis dormentes nas gavetas do congresso nacional e do senado por vários anos, com o simples intuito de fazer média com os eleitores.

O Gigante acordou, mas parece anêmico pela falta de saúde pública de qualidade, que sofre pelo atendimento precário em nossos hospitais sem a mínima estrutura e com grande parte dos profissionais da saúde descomprometidos com o juramento feito por ocasião da formatura, de usar seu “poder e entendimento” para o “bem do doente” e “nunca para causar dano ou mal a alguém”.

O Gigante acordou acanhado, receoso, por falta de segurança pública. Sem a mínima noção de seu poder, foi agredido pela força militar, intransigente e obediente ao poder público que acredita que tudo pode. O sangue que jorra do corpo do colosso é fruto da injustiça sofrida por aqueles que sofrem e por aqueles buscam um futuro melhor para todo o povo brasileiro.

O Gigante, que agora acordou, é formado em sua maioria por fantoches, massa de manobra que saem às ruas para fazer número sem saber o que reivindicam, e que por trás dessas manifestações tem interesses laudáveis, mas outros escusos.

Se de um lado, o Gigante parece desorientado sem saber o que de fato quer e precisa, do outro lado os políticos parecem atônitos ao ver o povo nas ruas, temendo ver este desperto, inquieto e organizado, destituindo-os da mamata dos cargos públicos eletivos.

Apesar das conquistas alcançadas (a redução dos R$0,20 centavos na tarifa dos transportes públicos, da derrubada da PEC 37, da definição de que os royalties do petróleo serão destinados em sua totalidade para a educação e saúde, 75% e 25% respectivamente), infelizmente, o futuro do nosso Gigante é voltar a “dormir em berço esplendido”, acomodado com os desmandos dos nossos parlamentares, com a falta se segurança, de educação, de saúde, aguardando que até outro aumento de passagem seja a força motriz para despertar mais uma vez o gigante adormecido.

Espero sinceramente, que daqui a alguns meses eu possa agir como o Arnaldo Jabor (não por má fé) e venha publicamente me retratar por conta do meu ceticismo com o futuro deste movimento. No fundo espero ver que o “brado retumbante” deste “povo heroico” faça voltar a brilhar “o sol da liberdade” desta nossa “Pátria amada Brasil”.

Emerson Marinho