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31 maio 2020

LOCKDOWN, UMA MEDIDA NECESSÁRIA PARA MINIMIZAR O CONTÁGIO

*Emerson Marinho
Dados do Boletim Diário da Secretaria do Governo do Maranhão de 30/05 

São Luís começa a apresentar os resultados de 14 dias do bloqueio total, decretado pelo governo do Estado atendendo à determinação judicial. Após 15 dias do fim do lockdown o número de óbitos e de novos casos começam a diminuir. Apesar de um pequeno alívio para o sistema de saúde que beirava o colapso com quase 100% dos leitos ocupados, os números ainda são preocupantes e revelam a necessidade do poder público e da população continuarem cumprindo as medidas de distanciamento determinadas pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais, regras básicas de higiene, além do uso de máscaras e do álcool em gel.
Os últimos dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde, mostram que no último dia 30/05, 15 dias depois do término do lockdown decretado na Ilha, houve uma redução do número de óbitos na capital, sendo 3 vítimas fatais, mantendo a tendência de queda dos últimos 5 dias, ficando muito longe dos cerca de 30 óbitos registrados no pico. Ainda assim, o número de novos casos é grande, 287, mesmo apresentando queda e estando longe do recorde de 856 casos, registrados no Estado dia 08/05, quase todos concentrados na capital.

O dia 30 de abril marcaria, além da decretação do lockdown, 40 dias do primeiro caso registrado no Maranhão, ocorrido no dia 19 de março, quando o governador decretou imediatamente situação de calamidade pública, suspensão das aulas e o isolamento domiciliar de quem apresentasse sinais de síndrome gripal. No dia 30, São Luís registraria 1.075 contaminados pelo vírus, correspondendo à 0,097% da população, número que colocava a capital na 3ª posição no ranking nacional das cidades do país em relação à taxa de casos para cada 100 mil habitantes. Ficaria à frente também de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, além de outras, com mais casos da doença, mas com maior população. Um outro dado preocupante e alarmante divulgado no mesmo dia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Maranhão registrava proporcionalmente a mesma velocidade de óbitos que os Estados Unidos.

O lockdown no Estado

Todos os números alarmantes, levaram à decretação imediata do chamado lockdown. Requerido pelo juiz Douglas de Melo Martins, titular da Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís e decretado pelo governador Flávio Dino, a medida surgi como medida extrema para conter a pandemia crescente na capital do Estado, refletida no iminente colapso do sistema de saúde da Ilha, formado pelos municípios da Raposa, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e São Luís. Se naquele momento mais de 90% dos leitos clínicos e de UTI da capital estavam ocupados, a taxa de mortalidade já havia chegado a 10,03 e o número de contaminados diários do Estado chegaria nos dias seguintes à casa dos 856 casos, sendo quase todos concentrados na Ilha. Após o lockdown um número chama a atenção, atualmente a taxa de mortalidade foi reduzida à 2,76 e mantendo a tendência de queda percebida a partir do quinto dia do início do lockdown, quando era de 9,66.


Abertura ensaiada pelo governo

Os números positivos divulgados pelo relatório diário da secretaria do Estado estão longe de mostrar o controle da doença no Maranhão. O início do relaxamento das medidas de distanciamento por parte da população é percebido pelas aglomerações nos centros comerciais. O governo também vem contribuindo com a abertura gradual de serviços não essenciais, no momento em que o número de leitos ocupados na Ilha ainda se mantém em mais de 95% (de UTI), ainda que os clínicos já estejam com apenas 40% de ocupação. Essa ação do governo passa à população a falsa impressão de controle da doença na cidade aumentando as aglomerações e o risco do retorno da crise na saúde.

Número crescente do interior do Estado

Se de um lado os números revelam-se positivo na capital, a crise no interior do Estado está apenas no início. Os números de óbitos no Maranhão ainda se mantêm na casa dos 30 diários, entretanto as vítimas passaram a se concentrar agora no interior do Estado. Cidades como Imperatriz, segunda cidade mais populosa do Estado, já registra mais casos de óbitos que a capital, tendo 5 vezes menos leitos de UTI (já ocupados em quase 95%) e quase 10 vezes menos leitos clínicos (100% ocupados). Enquanto São Luís registrou 287 novos casos de contaminados no dia 30/05, Imperatriz registrou 77 e os demais municípios registraram 1655 novos casos.
Esses números apontam para dois graves problemas: os municípios do interior do Estado já não apresentavam, antes da crise, a mínima estrutura de saúde para garantir a internação de pacientes com outras comorbidades, com a Covid-19 e a necessidade de internação de pacientes graves ao mesmo tempo, estará escancarado a escassez de investimentos na área da saúde e o descaso dos últimos governos com a saúde pública no Maranhão. Ainda que o atual governo tenha criado hospitais de campanha em regiões estratégicas para contornar o problema, o número de leitos ainda está aquém do necessário para atender a quem precisa. Os números divulgados pela Secretaria do Estado mostram que mais de 80% dos leitos de UTI e clínicos estão ocupados, isso corresponde a apenas 16 e 49 leitos vagos, respectivamente.
Do outro lado, alguns casos serão enviados para a capital, processo já iniciado no início da semana (20/05) por meio de unidades aéreas, o que poderia reabrir o processo de contaminação na capital, que começa a achatar a curva de morbidade.

De todo o exposto, uma pergunta fica no ar: Seria o momento do governo do Estado, em decorrência da grave crise que se avizinha no interior, considerar a decretação do lockdown nos outros municípios imediatamente?

*Bacharel em Comunicação Social

06 maio 2020

DESPREPARO DOS GOVERNOS FRENTE AO COMBATE A PANDEMIAS

*Emerson Marinho

O Covid-19 escancara a insipiência dos governos mundiais frente as políticas de enfrentamento às pandemias.

Mais que qualquer outra pandemia dos últimos 100 anos, o Covid-19, vem escancarar como instituições e governos ainda engatinham na questão de prevenção de novas doenças ou mesmo diante da organização de políticas públicas de enfrentamento a crises no sistema de saúde.

Durante décadas, o mundo inteiro depositava sua confiança nos países desenvolvidos, por conta dos propalados altos investimentos na área da ciência e na alta tecnologia desenvolvida por eles. Tudo isso resultaria em socorro imediato em situações como essa pela qual o mundo está atravessando, criando vacinas que salvariam milhares de vidas, quase instantaneamente.

Tal lá como cá, nos países em desenvolvimento, há um ponto cego, no que se refere ao enfrentamento de pandemias. O Covid-19 veio revelar o descaso dos governos com a ciência, ao transferir grande parte dos investimentos em pesquisas para áreas ligadas à segurança contra possíveis inimigos estrangeiros e até certo ponto, inexistentes. Os exércitos recebem investimentos cada vez mais robustos para manter a soberania nacional, enquanto os inimigos invisíveis, cada vez mais reais e mortais, tem sua investigação e combate negligenciados.

Nas últimas duas décadas, várias pandemias veem anunciando o que estava por vir. Casos como do Ebola, Gripe Aviária e Suína, já mostravam a necessidade da antecipação dos governos para o combate de pandemias, cada vez mais fatais por falta de controle e conhecimento de sua linhagem. Por sorte, talvez, não conseguiram causar o estrago causado pelo Covid-19, pois se limitaram a determinadas regiões, ou por não terem a facilidade de contágio de pessoa para pessoa como apresenta a da atual pandemia.

É premente, a necessidade de mudar a visão dos governos mundiais, nacionais e regionais para cuidar da saúde das pessoas, tanto em nível global, como em níveis particulares, porquanto, como na cadeia alimentar, ao se romper um elo o todo fica comprometido.

O mundo deve estar preparado para o pior, não que ele necessariamente venha, mas para que em situações eventuais, estejamos minimamente prevenidos para se evitar de se alastrar pelo mundo com tanta rapidez, ou para se tomar iniciativas para o isolamento dos casos até a criação e produção de vacinas e medicamentos que reduzam os efeitos catastróficos sobre grande parcela da humanidade.

Outro fator que se mostrou falho foi a disponibilidade de equipamentos básicos como os propalados EPIs, equipamentos de suporte à vida (ventiladores pulmonares), ou mesmo medicamentos básicos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) como Propofol e Midazolam, jamais poderiam estar em falta. Essa realidade não foi exclusiva de Cidades, Estados ou Países subdesenvolvidos, mas também das grandes potências mundiais que pagam pela sua negligencia de se preparar para o imprevisível.

É inconcebível, ter como únicas recomendações para o combate à pandemia, uso de máscaras, o distanciamento social, ou até mesmo o Lockdown como alternativa extrema. Os governos precisam entender, que para além de buscar outros planetas habitáveis, ou mesmo vida inteligente fora da Terra, demandando investimento de bilhões, até mesmo trilhões de dólares, precisamos investir no que realmente valha a pena, nós mesmos. Esses investimentos devem ser aplicados primordialmente em pessoas, na manutenção da vida e preservação do nosso planeta.

*Bacharel em Comunicação