Emerson Marinho*
Um relatório
paralelo apresentado pela oposição na CPMI do 8 de janeiro causou indignação e perplexidade entre os parlamentares da base
governista e os defensores da democracia. O documento pede o indiciamento do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Justiça, Flávio Dino
(PSB), por suposta omissão e interferência na concessão de um empréstimo à
Argentina às vésperas das eleições no país vizinho. O relatório também compara
Dino a Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler.
A intenção do
relatório paralelo é clara: desviar o foco da investigação da CPMI, que apura
os atos criminosos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram as sedes dos Três Poderes, em uma
tentativa frustrada de golpe de Estado. O relatório oficial da CPMI,
apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), pede o indiciamento de
Bolsonaro e mais 60 pessoas, entre civis e militares, por associação criminosa,
violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe
de Estado.
O relatório
paralelo ignora as evidências e os depoimentos que comprovam a participação
direta ou indireta de Bolsonaro e seus aliados na organização e na execução dos
atos golpistas. Em vez disso, tenta criar uma narrativa fantasiosa e sem
fundamento para incriminar Lula e Dino, dois dos principais líderes políticos
do campo progressista no país.
Os argumentos
usados pelo relatório paralelo não se sustentam diante dos fatos. O empréstimo
concedido à Argentina pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) foi
uma operação normal e legal, que teve o aval do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e do Banco Central argentino. O empréstimo foi solicitado pela
Argentina em julho, pago em agosto e devolvido em setembro, antes das eleições
argentinas em outubro. O Brasil tem apenas um voto no CAF, enquanto outros
cinco países têm dois votos cada. Portanto, não houve nenhuma interferência
política ou ingerência do governo brasileiro na decisão do banco.
A comparação
entre Dino e Goebbels é uma ofensa absurda e desproporcional, que revela o
desprezo pela história e pela memória das vítimas do nazismo. Dino é um jurista
renomado, ex-juiz federal, ex-governador do Maranhão e atual ministro da
Justiça. Ele tem uma trajetória de defesa dos direitos humanos, da democracia e
da soberania nacional. Goebbels foi um dos principais ideólogos do regime
nazista, responsável pela propaganda que difundia o ódio, o racismo e a violência
contra judeus, comunistas, ciganos e outros grupos perseguidos.
O relatório
paralelo da oposição não deve prosperar na CPMI do 8 de Janeiro. A comissão tem
maioria governista e deve aprovar o relatório oficial da senadora Eliziane
Gama. O documento será encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que
poderá oferecer denúncia contra os indiciados à Justiça Federal. Além disso, o
relatório sugere a criação de uma Comissão Nacional da Verdade para apurar as
responsabilidades políticas e institucionais dos atos golpistas.
O relatório
paralelo da oposição é uma tentativa desesperada de salvar Bolsonaro e seus
aliados da punição que merecem por terem atentado contra a democracia e a
Constituição. É uma peça de ficção que não tem credibilidade nem respaldo
jurídico. É uma brincadeira de mau gosto que ofende a inteligência e a
dignidade do povo brasileiro.