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20 junho 2023

TRAGÉDIA DE CAMBÉ: A ESCALADA DA VIOLÊNCIA ARMADA

Os desafios de segurança pública e a necessidade de um controle mais rigoroso sobre armamentos no país.

Emerson Marinho*

Imagem gerada por IA.
O Brasil foi novamente abalado por um trágico episódio de violência armada em ambiente escolar. Na manhã desta segunda-feira (19) no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, um casal de namorados, Karoline Verri Alves, de 17 anos e Luan Augusto, de 16 anos, foram covardemente assassinados por um ex-aluno da escola, de 21 anos, que não teve a identidade divulgada. O atirador, que alega ter sofrido bullying quando estudou na escola em 2014, tinha o objetivo de causar o maior número possível de vítimas. Ele também revelou que o crime estava sendo planejado desde 2020. Além dele, um adolescente de 13 anos e um outro rapaz de 21 foram presos suspeitos de ajudar no planejamento do crime.

O ataque levanta questões sobre a facilidade de acesso às armas e seus desdobramentos. Diante desse contexto, é fundamental uma análise imparcial dos fatos e uma reflexão sobre as medidas adotadas em relação ao controle de armamentos.

A tragédia em Cambé não é um caso isolado. Infelizmente, temos testemunhado outros episódios de violência armada em escolas brasileiras nos últimos anos. Em 2022, a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo, foi palco de um ataque que resultou em vítimas fatais e feridos. Em 2021, o Colégio Goyases, em Goiânia, também foi cenário de um atentado com arma de fogo. Essas situações trágicas expõem um problema complexo e alarmante.

O aumento no número de registros de armas no Brasil nos últimos anos tem despertado preocupação. Segundo dados do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal, houve um crescimento de 65% nesses registros entre 2019 e 2020. Essa tendência coincide com as mudanças nas leis de posse e porte de armas promovidas pelo governo federal na época, visando garantir o direito à legítima defesa e combater a criminalidade.

No entanto, é fundamental analisar com cautela os argumentos que embasaram essa flexibilização. Estudos indicam que o aumento na circulação de armas está associado ao aumento da violência letal. Levantamentos do Instituto Sou da Paz e da Universidade Federal do Paraná revelam que estados com maior número de armas registradas apresentam maiores taxas de homicídios por arma de fogo.

Além disso, é importante considerar que as armas legalmente adquiridas podem acabar nas mãos de criminosos devido a roubos, furtos ou vendas ilegais. Dados da Polícia Federal revelam que milhares de armas registradas foram extraviadas ou roubadas nos últimos anos. Essas armas podem ser utilizadas em crimes, agravando ainda mais a situação de violência no país.

A fiscalização e controle efetivos são fundamentais para garantir a segurança da população. No entanto, denúncias de fraudes e irregularidades envolvendo colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), lojas de armas e clubes de tiro evidenciam a fragilidade do sistema. É necessário que o governo federal adote medidas mais rigorosas para rastrear as armas e munições, como previsto no Estatuto do Desarmamento, e combata o comércio ilegal de armamentos.

Diante desse cenário preocupante, é imprescindível uma revisão da política armamentista no país. É fundamental que o governo federal, em conjunto com o Congresso Nacional, adote medidas que restrinjam o acesso indiscriminado às armas, fortaleçam o controle e a fiscalização, e promovam políticas públicas de prevenção da violência.

Não podemos permitir que tragédias como a de Cambé se tornem frequentes em nossa realidade. A preservação da vida e a promoção de uma sociedade segura são objetivos que devem estar acima de interesses individuais. Armar a população não é a solução para os desafios que enfrentamos. Pelo contrário, é necessário investir em ações que promovam a cultura da paz, o respeito à diversidade e a mediação de conflitos, especialmente nas escolas.

* Bacharel em Comunicação Social