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31 outubro 2012

O ENGODO DOS DISCURSOS DAS COTAS RACIAIS


O discurso ontológico de que as cotas servem para corrigir distorções históricas causadas por décadas de escravidão e discriminação com os negros no nosso país traz consigo uma série de imbricações que este ano começam a surgir após a adoção do sistema de cotas raciais pelas instituições federais por determinação do governo federal. A lei, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, prevê que todas as universidades e institutos federais do país reservem 50% das vagas para alunos que tenham feito todo o ensino médio na rede pública. Desse total, metade será destinada a quem tem renda familiar de até 1,5 salário mínimo por pessoa. E dentro desse universo de vagas destinadas a estudantes de escolas públicas serão aplicados os critérios raciais.

Mais uma vez, volta também, os velhos discursos dos anticotistas que afirmam que é uma forma velada de sectarismo, de preconceito racial ao afirmar que os negros são incapazes de disputar com o outro universo.
O maior dos problemas é que o sistema de cotas foi compreendido apenas no sentido de que as cotas se destinam para quem se declara negro, e em se tratando de Brasil, um país de grande miscigenação, não é fácil qualquer um alegar que por suas veias corre sangue dos negros. O que já foi um problema para diversas instituições, inclusive a UFMA que teve que responder à justiça pelos critérios utilizados pela instituição para determinar a “negritude” deste aluno em detrimento de outro. No caso a família entrou na justiça, pois foi classificado um irmão gêmeo como negro, enquanto o outro não.

Outro grave problema das cotas é prejudicar a qualidade, o nível dos cursos e por consequência dos profissionais formados pelas instituições de ensino, pois as instituições federais são obrigadas a aprovar os estudantes, mesmo que não estejam habilitados, que tenham conhecimento para compreender as disciplinas apresentadas durante o curso, ou que acompanhem os assuntos dispostos, o que leva os professores a reduzir a qualidade do curso para que todos acompanhem, prejudicando os mais qualificados, ou avançar com o assunto prejudicando o aprendizado dos cotistas. E afirmar que os professores não precisariam reduzir a qualidade do ensino, pois os alunos aplicados se desdobrariam para acompanhar o assunto é afirmar que os mesmos seriam capazes de se esforçar para serem aprovados na prova universal. Outro problema é que para alguns cursos, como direito e medicina, no caso dos cursos superiores, os estudantes teriam que adquirir livros e/ou equipamentos, muitas vezes muito caros, e que os cotistas não teriam condições de comprar. Fica uma indagação e ao mesmo tempo uma sugestão, o governo não deveria assumir, também, esse ônus?

Talvez a solução fosse determinar que as universidades públicas fossem destinadas a quem cursou ensino público por toda a vida acadêmica, enquanto as faculdades e universidades particulares se destinariam aos estudantes de ensino particular. Mas entraríamos em outro grave problema que já começa a despontar no ensino brasileiro, o sucateamento do ensino público superior em detrimento da valorização do ensino particular, como já acontece com o ensino fundamental. Entretanto fico com o feijão com o arroz, a valorização do ensino fundamental, com o investimento tanto no ensino/aprendizado como nos professores. Os apoiadores das cotas, até alegam que essa seria uma solução a longo prazo, é verdade, mas quando o governo assume adotar as cotas abdica de investir no ensino público, acreditando que o povo se contentará com essa medida paliativa.

Emerson Marinho
DRT: 1813