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15 junho 2023

DEPUTADOS APROVAM PROJETO QUE PROTEGE POLÍTICOS DE CRÍTICAS

 Aprovado Projeto de Lei que Punirá Discriminação contra Pessoas Politicamente Expostas

* Emerson Marinho

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (14) o projeto de lei que visa punir a discriminação contra pessoas politicamente expostas. Com 252 votos a favor e 163 contra, a proposta, de autoria da deputada Dani Cunha (União-RJ), filha do ex-presidente da Casa e deputado cassado Eduardo Cunha (PTB-SP), agora segue para análise no Senado Federal.

De acordo com o projeto, será passível de pena de dois a quatro anos de prisão, além de multa, ofender um político que seja réu em processo judicial, desde que sem condenação transitada em julgado. Além disso, o texto define o conceito de "pessoas politicamente expostas", incluindo desde os chefes dos Executivos federal, estaduais e municipais até os Legislativos nas mesmas esferas, bem como diversas outras autoridades da República.

Essa proposta, no entanto, tem despertado críticas contundentes, sendo considerada um atentado à liberdade de expressão e à democracia. Seu objetivo é proteger os políticos de qualquer crítica ou questionamento por parte da sociedade, especialmente aqueles envolvidos em casos de corrupção ou improbidade administrativa. Além disso, ela cria uma categoria especial de cidadãos que se consideram acima da lei e dos demais brasileiros, indo contra o princípio constitucional da igualdade perante a lei.

Outro aspecto a ser considerado é que essa proposta se mostra desnecessária e redundante, visto que já existe uma lei que pune o crime de discriminação ou preconceito com base em raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Recentemente, essa lei foi atualizada para tipificar como racismo a injúria racial, ampliando a proteção aos grupos vulneráveis e minoritários. Portanto, não há justificativa para incluir os políticos nessa lei, uma vez que eles não sofrem discriminação sistemática ou histórica com base em sua condição.

É lamentável constatar que os deputados estejam mais empenhados em criar leis que os beneficiem e os protejam, enquanto diversos projetos de interesse da população estão parados há anos na Câmara. Segundo um levantamento realizado pelo novo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Rui Falcão (PT-SP), mais de 9 mil projetos aguardam análise dos parlamentares na CCJ, abrangendo temas como redução da violência nas escolas, facilitação para abertura de empresas, recuperação do setor de eventos e turismo, entre outros assuntos relevantes.

Outro ponto que chama a atenção é a rapidez com que esse projeto foi aprovado pela Câmara. O requerimento de urgência foi apresentado no dia 6 de junho e votado no mesmo dia. Em menos de dez dias, os deputados conseguiram aprovar uma proposta polêmica e controversa, sem promover um amplo debate com a sociedade civil e as entidades representativas dos diversos segmentos sociais.

Essa é mais uma evidência de como os políticos brasileiros estão desconectados da realidade e das demandas do povo. Legislar em causa própria, ignorando problemas graves que afetam o país, como a pandemia, o desemprego, a fome, a violência e a desigualdade, é algo inaceitável. Além disso, desrespeitar os princípios democráticos e republicanos, buscando se proteger de críticas e cobranças da sociedade, representa um desvio de suas responsabilidades como servidores públicos, que devem prestar contas aos eleitores.

Diante disso, é necessário reagir a esse tipo de iniciativa antidemocrática e contrária aos princípios republicanos. Devemos defender a liberdade de expressão e o direito à informação. É essencial fiscalizar e cobrar os políticos por suas ações, exigindo que sejam responsáveis e transparentes, respeitando os direitos e deveres de todos os cidadãos. É fundamental fortalecer a democracia e a cidadania no Brasil.

* Bacharel em Comunicação Social