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19 junho 2023

A QUEDA DO DÓLAR É SORTE DE LULA?

 A Queda do Dólar e seus Reflexos no Governo Lula: Análise dos Fatores em Jogo

Emerson Marinho*

Imagem gerada por IA.
A queda do dólar nos últimos dias tem despertado grande interesse e discussão no cenário econômico brasileiro. Esse movimento acompanha a tendência observada desde o início do mandato do presidente Lula, com uma desvalorização acumulada de 5%, no primeiro mês, em relação ao real. No entanto, a atribuição de méritos ou sorte ao presidente por esse cenário ainda é objeto de debate entre especialistas.

Ao analisar de forma imparcial os fatores envolvidos nessa questão, observa-se que a principal razão para a queda do dólar não está necessariamente relacionada ao governo ou a fatores internos do Brasil. Trata-se, na verdade, de um reflexo da recuperação da economia global após os impactos da pandemia de COVID-19. A demanda por commodities aumentou significativamente, favorecendo países exportadores como o Brasil. Além disso, a política monetária expansionista adotada pelos Estados Unidos, com a manutenção de baixas taxas de juros e a injeção de grandes quantidades de dólares na economia, impulsionou o fluxo de capital para mercados emergentes.

Embora seja importante reconhecer a influência do presidente Lula nas expectativas do mercado, não se pode atribuir exclusivamente a ele o movimento do câmbio. A reação positiva dos investidores às sinalizações de política econômica e aos acordos políticos promovidos pelo governo pode ser considerada um fator adicional. Desde a formação de uma equipe econômica ortodoxa, liderada por Fernando Haddad, comprometida com o equilíbrio fiscal, o respeito ao teto de gastos e a reforma tributária, houve uma melhora na confiança dos agentes econômicos. Além disso, o discurso conciliador adotado por Lula após sua eleição também contribuiu para a criação de um ambiente mais favorável para a economia.

É importante mencionar que a situação contrasta com o período marcado por polarização e instabilidade durante o governo anterior. A gestão do presidente Bolsonaro enfrentou diversas crises políticas, sanitárias e institucionais, o que gerou um clima de incerteza e impactou negativamente a economia.

No entanto, a avaliação sobre a capacidade de gestão econômica de Lula é objeto de diferentes interpretações. Durante seus dois mandatos anteriores (2003-2010), o Brasil experimentou um período de crescimento econômico, inclusão social e valorização da moeda nacional. Enquanto alguns atribuem esse desempenho a uma conjuntura internacional favorável e à continuidade de políticas macroeconômicas adotadas em governos anteriores, outros defendem que Lula teve méritos próprios. Entre esses méritos destacam-se a ampliação do mercado interno por meio do aumento do salário mínimo e dos programas sociais, a diversificação das relações comerciais com países emergentes e a criação de reservas internacionais que conferiram maior solidez ao país frente a crises externas.

Podemos entender que, a queda do dólar é um fenômeno complexo que resulta de uma combinação de fatores globais e nacionais. O contexto internacional favorável, a política monetária dos Estados Unidos e as sinalizações de política econômica do governo Lula têm desempenhado um papel nesse movimento. No entanto, é necessário um olhar crítico e aprofundado para compreender os reais impactos e méritos dessa conjuntura, evitando simplificações e generalizações. O futuro do câmbio e da economia brasileira ainda é incerto, mas acompanhar atentamente essas dinâmicas é essencial para entender e se preparar para os possíveis desdobramentos. Lula tem a oportunidade de liderar esse processo, mas também a responsabilidade de não decepcionar os brasileiros que depositaram nele suas esperanças.


* Bacharel em Comunicação