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05 junho 2020

DISTRIBUIÇÃO DE VACINA CONTRA O CORONAVÍRUS NO NORTE E NORDESTE DO BRASIL

*Emerson Marinho

O Brasil é reconhecido mundialmente por sua grande miscigenação, abrigando descendentes de povos de várias partes do mundo e de inúmeras etnias. De outro modo, também é reconhecido pela má distribuição de renda, sendo capaz de existir no mesmo território algumas das maiores fortunas do mundo, ao lado de bolsões de pobreza e miséria amontoados em favelas, palafitas ou ainda em  exércitos de desabrigados que disputam calçadas e pontes como abrigo.

O Norte e Nordeste do Brasil, mesmo já tendo, em alguns momentos da história recente, representantes na principal cadeira do Executivo Nacional, ainda amargam os piores números quando se trata do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) refletidos na péssima distribuição de renda, falta de serviço de saúde adequado, segurança, saneamento básico, moradia, etc.

O Coronavírus veio escancarar esse abismo social com as outras regiões do Brasil. São Paulo e Rio de Janeiro ainda surgem como as cidades que mais registram óbitos no país decorrente da pandemia de Covid-19, isso ocorre por terem grande concentração populacional. Estados como Amazonas e Ceará, são exemplos claros de Estados com baixa densidade demográfica, mas que ocupam as primeiras posições no número de óbitos, estes dois últimos representando o Norte e Nordeste do país, respectivamente.

Enquanto muitos países da Europa já discutem a produção de uma vacina e as estratégias para uma possível distribuição do medicamento, o Brasil ainda vive uma escalada no número de óbitos e contaminados, batendo recordes diários. No centésimo dia do primeiro caso registrado no país, enquanto outras nações já atingiam a curva na descendente nessa mesma marca, o Brasil chega a números crescentes ultrapassando a Itália ficando a cerca de 5000 mortes para ultrapassar o segundo colocado em número de óbitos absolutos, o Reino Unido, que até essa data se aproxima dos 40 mil mortos.

Fazendo pouco casos desses números, o Governo Federal Brasileiro se mostra inoperante na formatação de estratégias para combater o avanço da pandemia no país e principalmente no Norte e Nordeste aonde os números se mantém altíssimos. Na contramão de ações positivas para a redução das dificuldades das milhares de famílias que ficaram sem renda por terem perdido os mantenedores da renda familiar para a Covid-19 ou aqueles que engrossam as filas de desempregados que alcançam marcas históricas, o governo Federal anunciou a retira de R$ 83 milhões do Bolsa Família, programa assistencial que atende as famílias de baixa renda, e destinou à comunicação institucional do governo. Essa transferência ocorre em meio a acusações de que o Governo Federal teria dado menos atenção e recursos à Região Nordeste, realizando cortes de milhares de cadastros. Dos quase 160 mil benefícios que sofreram cortes em março, início da quarentena no país, 61,1% do total foram retirados justamente dessa região que responde por metade dos benefícios totais do país.

Em relação aos investimentos em pesquisa, o governo já vinha anunciando, em setembro de 2019, a redução dos recursos totais para o Ministério da Educação, em 2020, atingindo em cheio os financiamentos em pesquisa que tiveram cortes de até 50%. O Brasil que já desponta como um dos grandes polos mundiais de pesquisa, tendo pesquisadores reconhecidos internacionalmente, se vê desamparado no momento em que seus pesquisadores desenvolvem uma vacina contra o coronavírus Sars-Cov-2. O projeto é liderado por cientistas da Faculdade de Medicina da USP e pelo Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor). A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Esses números revelam que a discussão sobre a distribuição da vacina está longe da pauta do dia nessas regiões. Os governos Estaduais e Municipais gastam os seus esforços, principalmente nesse momento, em distribuir os parcos recursos na manutenção de um sistema de saúde precarizado por falta de estrutura, equipamento e pessoal, porquanto a maioria dos médicos migram para as capitais e as cidades mais desenvolvidas. Os governos, dessas regiões, lutam para a preservação da vida, enquanto são obrigados pelos empresários, e até mesmo pelo governo Federal alinhado à preocupação econômica, a avaliar a abertura do comércio e à flexibilização das medidas de distanciamento social em meio aos números ainda crescentes de contaminados e óbitos no país.

*Bacharel em Comunicação Social