Quero louvar o ministro Celso de Mello, pelo voto de admissibilidade
dos embargos infringentes existentes no Regimento Interno do tribunal. Não pelo
voto em si, mas pela aula dada ao fazer uso das Ordenações Filipinas do século
XVII aos códigos processuais estaduais da Constituição de 1891, justificando a
necessidade de um julgamento isento de pressões do clamor público, inda que
para isso tenha evocou a “racionalidade jurídica”.
Da mesma forma, gostaria de ver o decano usar toda a sua verbosidade
jurídica para “preservar os direitos constitucionais de outros ‘cidadãos’
brasileiros”. Não daqueles que podem pagar os melhores advogados, que podem ser
assistidos pelos melhores juristas, que buscam na lei, brechas para livrar os
seus representados. Quero ver o ministro gastar sua impecável retórica e experiência
para defender os “cidadãos”, não aqueles que enfiam suas mãos sujas, imundas,
pútridas nos cofres públicos e roubam os recursos destinados à merenda das nossas
crianças, recursos destinados à saúde pública já tão precária que vitima
milhares de pessoas todos os dias por falta de investimentos, recursos da
previdência social deixando à míngua os nossos idosos que trabalharam por toda
uma vida esperando ter um descanso no final da vida, recursos a serem
investidos na infraestrutura das nossas estradas que ajudariam a alavancar o
desenvolvimento do nosso país, recursos para o saneamento básico, educação,
etc, etc.
Queria ver o deão defender o “verdadeiro” cidadão brasileiro que
trabalha de sol a sol por toda uma vida e vê os seus sonhos serem solapados por
bandidos que os impedem de oportunizar seus filhos com boas escolas e boa
educação, com saúde pública de qualidade, de dar a seus filhos a oportunidade
de ingressas em boas universidades e terem bons empregos.
Espero que o Ministro
use somente parte de toda a eloquência usada ao defender os mensaleiros, para
defender o João Silva, pai de 5 filhos, desempregado, que chegou em casa após
mais uma jornada de um dia inteiro em busca de emprego e tudo que ouviu foi
promessas. Depois de ver os seus filhos chorarem de fome, desesperado, sai de
casa e rouba para ver o sofrimento de seus rebentos amenizados. Quero que ele
defenda esse miserável vítima da nossa sociedade injusta e cruel, de um sistema
capitalista que nos faz ver somente para nosso umbigo e muitas vezes usar o
outro de escada, sem qualquer cerimônia.
Como um velho ditado expressa: querer não é poder. Portanto, não
verei o ministro se manifestar a favor do João, da Maria, do José, do Pedro,
não dos anônimos, não dos que jamais roubaram menos de milhão, não dos “verdadeiros
cidadãos” que pagam os seus exorbitantes salários, com o suor de seu rosto, e as
marcas deixadas pelo sol e pelo tempo. Também não verei o povo sair às ruas e
fazer uma verdadeira revolução expurgando do poder a todos aqueles que nos
envergonham de ser brasileiros, e com um brado forte cuspa em seus rostos:
VOCÊS NÃO NOS REPRESENTAM.
Que nossa indignação não fique restrita a nossos lares, mas saia de
fato às ruas e promova um levante em favor dos verdadeiros brasileiros, dos
verdadeiros cidadãos.
Emerson Marinho