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19 setembro 2013

O “VERDADEIRO CIDADÃO” QUE O CELSO DE MELLO DEVERIA DEFENDER

Quero louvar o ministro Celso de Mello, pelo voto de admissibilidade dos embargos infringentes existentes no Regimento Interno do tribunal. Não pelo voto em si, mas pela aula dada ao fazer uso das Ordenações Filipinas do século XVII aos códigos processuais estaduais da Constituição de 1891, justificando a necessidade de um julgamento isento de pressões do clamor público, inda que para isso tenha evocou a “racionalidade jurídica”.
Da mesma forma, gostaria de ver o decano usar toda a sua verbosidade jurídica para “preservar os direitos constitucionais de outros ‘cidadãos’ brasileiros”. Não daqueles que podem pagar os melhores advogados, que podem ser assistidos pelos melhores juristas, que buscam na lei, brechas para livrar os seus representados. Quero ver o ministro gastar sua impecável retórica e experiência para defender os “cidadãos”, não aqueles que enfiam suas mãos sujas, imundas, pútridas nos cofres públicos e roubam os recursos destinados à merenda das nossas crianças, recursos destinados à saúde pública já tão precária que vitima milhares de pessoas todos os dias por falta de investimentos, recursos da previdência social deixando à míngua os nossos idosos que trabalharam por toda uma vida esperando ter um descanso no final da vida, recursos a serem investidos na infraestrutura das nossas estradas que ajudariam a alavancar o desenvolvimento do nosso país, recursos para o saneamento básico, educação, etc, etc.

Queria ver o deão defender o “verdadeiro” cidadão brasileiro que trabalha de sol a sol por toda uma vida e vê os seus sonhos serem solapados por bandidos que os impedem de oportunizar seus filhos com boas escolas e boa educação, com saúde pública de qualidade, de dar a seus filhos a oportunidade de ingressas em boas universidades e terem bons empregos. 

Espero que o Ministro use somente parte de toda a eloquência usada ao defender os mensaleiros, para defender o João Silva, pai de 5 filhos, desempregado, que chegou em casa após mais uma jornada de um dia inteiro em busca de emprego e tudo que ouviu foi promessas. Depois de ver os seus filhos chorarem de fome, desesperado, sai de casa e rouba para ver o sofrimento de seus rebentos amenizados. Quero que ele defenda esse miserável vítima da nossa sociedade injusta e cruel, de um sistema capitalista que nos faz ver somente para nosso umbigo e muitas vezes usar o outro de escada, sem qualquer cerimônia.

Como um velho ditado expressa: querer não é poder. Portanto, não verei o ministro se manifestar a favor do João, da Maria, do José, do Pedro, não dos anônimos, não dos que jamais roubaram menos de milhão, não dos “verdadeiros cidadãos” que pagam os seus exorbitantes salários, com o suor de seu rosto, e as marcas deixadas pelo sol e pelo tempo. Também não verei o povo sair às ruas e fazer uma verdadeira revolução expurgando do poder a todos aqueles que nos envergonham de ser brasileiros, e com um brado forte cuspa em seus rostos: VOCÊS NÃO NOS REPRESENTAM.

Que nossa indignação não fique restrita a nossos lares, mas saia de fato às ruas e promova um levante em favor dos verdadeiros brasileiros, dos verdadeiros cidadãos.


Emerson Marinho