Pages

08 fevereiro 2025

HUGO MOTTA ACERTOU: NÃO HOUVE GOLPE NO 8 DE JANEIRO

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em declaração à imprensa, Hugo Motta, buscou minimizar os atos do 8 de janeiro entendendo que a punição dada pela justiça é exagerada para muitos casos.
  
Por: Emerson Marinho* 

O novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, acertou ao afirmar que não houve um golpe de Estado no dia 8 de janeiro. A declaração, dada durante uma entrevista a uma rádio de João Pessoa, que gerou polêmica e dividiu opiniões, tem fundamento técnico e histórico. Um golpe, por definição, implica na destituição de um governo e na instalação de um novo regime, como ocorreu em 1964. No caso do 8 de janeiro, apesar da gravidade dos atos de vandalismo e da invasão às sedes dos Três Poderes, não houve a tomada do poder ou a interrupção do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

No entanto, é inegável que os atos daquele dia configuram uma tentativa de golpe. Os acusados estão sendo julgados e condenados justamente por esse crime, previsto no artigo 359-M do Código Penal, que pune quem tenta "abolir, por meio de violência ou grave ameaça, o Estado Democrático de Direito". A Constituição Federal é clara ao proteger as instituições democráticas, e qualquer ação que busque subvertê-las deve ser tratada com rigor. 

Hugo Motta destacou, em sua entrevista, que um golpe precisa de líderes e do apoio de instituições, como as Forças Armadas. No entanto, sua análise parece incompleta. Embora não tenha havido um golpe consumado, havia sim líderes por trás da tentativa. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que ajudou a redigir uma minuta de golpe, é apontado como um dos principais articuladores. Além disso, o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, à época demonstrou apoio ao movimento, embora o Exército e a Aeronáutica tenham se mantido alheios. A falta de união entre as Forças Armadas foi decisiva para o fracasso da consumação do golpe. 

Apesar de não ter havido um golpe efetivo, a tentativa em si já é suficiente para acender o alerta. As instituições brasileiras reagiram com firmeza, garantindo a continuidade do governo e a punição dos responsáveis. O Congresso seguiu funcionando, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve suas atividades, e o Palácio do Planalto não foi ocupado de forma permanente. Essa resposta rápida e coordenada evitou uma tragédia maior, mas não pode ser motivo para minimizar o ocorrido. 

O presidente da Câmara, no entanto, parece subestimar a gravidade dos fatos ao comparar os invasores a "velhinhas" e "vândalos". Essa retórica, além de simplista, ignora a complexidade do que estava em jogo. Os atos do 8 de janeiro não foram meros quebra-quebras, mas uma tentativa organizada de desestabilizar a democracia. Havia planejamento, como a organização dos acampamentos em frente aos quarteis, que antecederam a invasão, a articulação de setores das forças armadas, e a produção de uma minuta de golpe encontrada mostram que havia uma articulação por trás dos atos. 

A punição exemplar dos envolvidos é essencial para evitar que episódios semelhantes se repitam. A Justiça tem agido com rigor, mas é preciso atenção para que eventuais pedidos de anistia não sejam aprovados. A anistia, nesse caso, seria um erro histórico, pois enviaria a mensagem de que ataques às instituições podem ser perdoados. A democracia exige responsabilidade, e quem tenta subvertê-la deve arcar com as consequências de seus atos. 

O povo brasileiro não pode se calar. É hora de ir às ruas, se necessário, para exigir que não haja anistia para os golpistas. A democracia não é um dado adquirido; ela precisa ser defendida diariamente. O 8 de janeiro mostrou que há setores dispostos a desafiar as regras do jogo democrático, e a resposta a isso deve ser clara: não há espaço para golpes, tentados ou consumados, no Brasil. 

* Bacharel em Comunicação Social