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Imagem produzida a partir de IA. |
Emerson Marinho*
Durante a semana uma notícia foi divulgada por alguns veículos de comunicação
causou polêmica e controvérsia. Segundo a reportagem, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) teria interferido diretamente para liberar um empréstimo de
US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,1 bilhões) do Banco de Desenvolvimento da América
Latina (CAF) à Argentina, às vésperas das eleições presidenciais no país
vizinho. O objetivo da suposta interferência seria favorecer o candidato
governista Sergio Massa, apoiado pelo presidente Alberto Fernández, aliado de
Lula.
No
entanto, a informação foi desmentida tanto pelo Palácio do Planalto quanto pelo
Ministério do Orçamento e Planejamento, que são os órgãos responsáveis pela
participação do Brasil no CAF. A ministra Simone Tebet negou que tenha recebido
qualquer ligação de Lula sobre o assunto e afirmou que a decisão pelo empréstimo
foi um procedimento normal da pasta, sem nenhuma interferência política.
Além
disso, os fatos mostram que o empréstimo não teve nenhuma relação com as
eleições argentinas, que ocorreram em 22 de outubro. O pedido de empréstimo foi
feito pela Argentina ao CAF no dia 28 de julho, com o compromisso de devolver o
dinheiro no mês seguinte. O empréstimo foi pago no dia 25 de agosto. O dinheiro
foi utilizado para pagar uma parcela atrasada ao Fundo Monetário Internacional
(FMI), que, por sua vez, liberou mais recursos aos argentinos, que quitaram com
o CAF.
A
operação tinha aval do FMI e do Banco Central argentino e passou pelo crivo de
21 países-membros do banco. Somente o Peru votou contra. O Brasil possui um
voto no CAF, enquanto outros cinco países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e
Venezuela) possuem dois votos cada. Portanto, o Brasil não teve poder de veto
nem de influência sobre a decisão do banco.
Diante
desses fatos, fica evidente que a notícia sobre a interferência de Lula no
empréstimo à Argentina foi uma tentativa de desestabilizar o governo brasileiro
e fortalecer a campanha do candidato da direita na Argentina, Javier Milei.
Milei é um economista ultraliberal e autodeclarado “anarcocapitalista”, que
propõe dolarizar a economia e fechar o Banco Central. Ele é contra o aborto e
considera as mudanças climáticas “uma farsa” da esquerda. Admirador dos
ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump (Republicanos), ele une o
voto dos indignados com os partidos tradicionais, principalmente entre os mais
jovens.
Milei
foi o responsável por divulgar a notícia falsa nas redes sociais, acusando Lula
de ser um “ditador” que pressionou um banco internacional para favorecer Massa.
Ele também atacou Fernández e Massa, chamando-os de “casta vermelha” e
“comunistas furiosos”. Milei tenta se aproveitar do descontentamento da
população argentina com a crise econômica e social que o país enfrenta, com
alta inflação, desemprego e pobreza.
No
entanto, Milei não representa uma alternativa viável nem confiável para a
Argentina. Suas propostas são radicais e irresponsáveis, podendo levar o país a
um caos ainda maior. Além disso, Milei é um político autoritário e violento,
que já agrediu jornalistas e adversários em público. Ele também é um
negacionista da ditadura militar argentina, que deixou cerca de 30 mil
desaparecidos entre 1976 e 1983.
A
interferência de Lula na concessão de empréstimo para a Argentina é uma notícia
falsa que deve ser combatida com a
verdade dos fatos. O Brasil e a Argentina são países irmãos e parceiros
estratégicos, que devem cooperar para o desenvolvimento e a integração da
América Latina. O empréstimo do CAF foi uma demonstração de solidariedade e de
apoio à recuperação econômica do país vizinho, sem nenhuma ingerência política.
O que está em jogo nas eleições argentinas é a escolha entre a democracia e o
autoritarismo, entre a liberdade e a opressão, entre o progresso e o retrocesso.
* Bacharel em
Comunicação Social