O brado, ouvido nas ruas de São
Paulo, foi um “grito de basta” de quem não aguentava mais tamanha afronta e
falta de respeito ao cidadão. Acreditava-se ser mais um dentre tantos outros
que passam quase despercebidos nos telejornais. A poderosa Rede Globo por meio
do seu comentarista, Arnaldo Jabor, apressou-se em afirmar que o ato era
promovido por playboyzinhos irresponsáveis da classe média, com o simples
intuito de promover baderna. Dois dias depois foi obrigado a se retratar
admitindo que o movimento era uma “inquietação tardia” comparando-o com o dos
Caras Pintadas.
Após várias semanas de movimento
e das cenas de quebra-quebra que a grande mídia fez questão de acentuar (mesmo
ressalvando que era apenas uma pequena parcela dos manifestantes, os “baderneiros”)
muitos veem o movimento com desconfiança. Acéfala e desorganizada, as passeatas
se espalham pelo Brasil, como um tsunami, entretanto, se perde em meio a tantas
reivindicações, a mobilizações sem pauta definida e sem saber qual o poder que o
povo realmente tem.
O Movimento do Passe Livre ao declarar
o fim das mobilizações, após o governo abaixar o preço da tarifa, talvez com a intenção
de sair com o nome da instituição fortalecido, joga um balde de água fria no
fogo “figurado” das manifestações. Se a intenção era arrefecer o vigor da
massa, o objetivo não obtém logro, não desmobiliza o povo, que ainda sai às
ruas para reivindicar melhorias nos serviços públicos.
O Gigante acordou, mas acordou
atordoado, analfabeto por falta de professores qualificados e bem remunerados;
por escolas sucateadas, sem carteiras, material didático e estrutura física
precária. O Gigante hoje é “apolitizado” se intitula apartidário, e contra as
bandeiras de quem há muito tempo discute as necessidades dos brasileiros e sabe
o que é possível fazer e a quem cobrar para ver as suas reivindicações
atendidas. O temor não é aos politizados, é aos políticos corruptos que amedrontados
com o clamor das ruas, busca aprovar leis dormentes nas gavetas do congresso
nacional e do senado por vários anos, com o simples intuito de fazer média com
os eleitores.
O Gigante acordou, mas parece
anêmico pela falta de saúde pública de qualidade, que sofre pelo atendimento
precário em nossos hospitais sem a mínima estrutura e com grande parte dos profissionais
da saúde descomprometidos com o juramento feito por ocasião da formatura, de
usar seu “poder e entendimento” para o “bem do doente” e “nunca para causar
dano ou mal a alguém”.
O Gigante acordou acanhado,
receoso, por falta de segurança pública. Sem a mínima noção de seu poder, foi
agredido pela força militar, intransigente e obediente ao poder público que acredita
que tudo pode. O sangue que jorra do corpo do colosso é fruto da injustiça
sofrida por aqueles que sofrem e por aqueles buscam um futuro melhor para todo
o povo brasileiro.
O Gigante, que agora acordou, é
formado em sua maioria por fantoches, massa de manobra que saem às ruas para
fazer número sem saber o que reivindicam, e que por trás dessas manifestações
tem interesses laudáveis, mas outros escusos.
Se de um lado, o Gigante parece
desorientado sem saber o que de fato quer e precisa, do outro lado os políticos
parecem atônitos ao ver o povo nas ruas, temendo ver este desperto, inquieto e
organizado, destituindo-os da mamata dos cargos públicos eletivos.
Apesar das conquistas alcançadas (a
redução dos R$0,20 centavos na tarifa dos transportes públicos, da derrubada da
PEC 37, da definição de que os royalties do petróleo serão destinados em sua
totalidade para a educação e saúde, 75% e 25% respectivamente), infelizmente, o
futuro do nosso Gigante é voltar a “dormir em berço esplendido”, acomodado com
os desmandos dos nossos parlamentares, com a falta se segurança, de educação,
de saúde, aguardando que até outro aumento de passagem seja a força motriz para
despertar mais uma vez o gigante adormecido.
Espero sinceramente, que daqui a
alguns meses eu possa agir como o Arnaldo Jabor (não por má fé) e venha
publicamente me retratar por conta do meu ceticismo com o futuro deste
movimento. No fundo espero ver que o “brado retumbante” deste “povo heroico”
faça voltar a brilhar “o sol da liberdade” desta nossa “Pátria amada Brasil”.
Emerson Marinho