Tiroteio em festa de militares revela o perigo das armas:
uma noite de celebração que se transformou em tragédia.
Emerson Marinho*
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Tragédia termina com 2 militares mortos e 3 feridos. Foto: Reprodução/Redes Sociais |
O episódio ocorreu durante a apresentação de uma quadrilha junina, que foi abruptamente interrompida pelos disparos. Os convidados, que estavam aproveitando a festa com alegria, foram tomados pelo pânico e correram em busca de proteção. Alguns vídeos registrando o caos circularam nas redes sociais, transformando a atmosfera de celebração em um cenário de horror e luto. Segundo o boletim de ocorrência, o assassino teria continuado com os disparos, mesmo depois da Stephanie ter caído no chão.
Essa trágica ocorrência lança luz sobre o perigo intrínseco às armas, que frequentemente são defendidas como instrumentos de segurança e proteção. O argumento é que as armas têm a finalidade de combater bandidos e salvaguardar cidadãos de bem. No entanto, na festa do Exército, não havia bandidos, apenas militares que deveriam estar devidamente preparados para lidar com armamentos. Mesmo assim, um deles perdeu o controle e acabou ceifando a vida de uma colega por um motivo fútil.
Esse incidente não é um caso
isolado. De acordo com dados do Atlas da Violência 2023, publicado pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), o Brasil registrou 47.773 homicídios por arma de fogo
em 2021, representando 72% do total de homicídios no país. A taxa de homicídios
por arma de fogo foi de 22,6 por 100 mil habitantes, alcançando o valor mais
elevado desde o início da série histórica em 1980.
Além disso, o estudo revela que
apenas 8% dos homicídios por arma de fogo resultaram em prisões dos autores em
até três anos após o crime. Em outras palavras, a impunidade é alta e a
eficácia das armas como meio de fazer justiça é baixa.
Outro aspecto preocupante é o
risco de mortes acidentais relacionadas às armas de fogo. O Atlas da Violência
2023 também aponta que foram registradas 1.424 mortes acidentais por arma de
fogo em 2021, sendo 938 dessas tragédias ocorridas dentro das residências das
vítimas. A taxa de mortes acidentais por arma de fogo foi de 0,7 por 100 mil
habitantes.
Esses números evidenciam que ter
uma arma em casa não significa estar mais seguro, mas sim mais exposto a um
acidente fatal. As crianças e os adolescentes são os mais vulneráveis a esse
tipo de ocorrência. O estudo destaca que 36% das vítimas de mortes acidentais
por arma de fogo tinham entre 0 e 19 anos.
Diante desse cenário alarmante,
fica evidente a necessidade de controlar o acesso às armas no país. Deixar
armas nas mãos de pessoas autorizadas já é um risco, como demonstrou o caso da
festa do Exército em Uberlândia. Seria ainda pior permitir que armas fiquem nas
mãos de pessoas menos preparadas.
Controlar as armas não significa
proibir seu uso, mas sim regulamentar e fiscalizar quem pode tê-las e sob quais
condições. É preciso garantir que as armas sejam utilizadas apenas para
propósitos legítimos e com responsabilidade. Também é necessário investir em
políticas públicas que promovam a prevenção da violência e a cultura da paz.
As armas não são a solução para os
problemas da sociedade, mas sim uma fonte adicional de problemas. A tragédia em
Uberlândia é mais uma prova desse fato.
* Bacharel em Comunicação Social