Levantamento da CGU revela "distorções" contábeis em ministérios do governo Bolsonaro, que superam em cinco vezes os desvios da Lava Jato
Emerson
Marinho*
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Imagem gerada por IA. |
Um levantamento feito pela GloboNews em auditorias da
Controladoria-Geral da União (CGU) apontou uma soma de R$ 202 bilhões em distorções contábeis em cinco
ministérios do governo de Jair Bolsonaro (PL). As inconsistências nas
contas foram verificadas nas seguintes pastas: Agricultura, Infraestrutura,
Educação, Saúde e Cidadania. Na
prática, as distorções fazem com que as demonstrações contábeis não reflitam
com exatidão a situação patrimonial, o resultado financeiro e o fluxo de caixa
das pastas. Isso pode comprometer a transparência, a prestação de contas e o
controle social dos recursos públicos.
Esse levantamento é mais um indício de que o discurso do governo
Bolsonaro de que não havia
corrupção em sua gestão é falacioso e contraditório. Não se trata apenas de
erros técnicos ou formais, mas de possíveis irregularidades que podem
configurar desvios, fraudes ou superfaturamentos.
Um exemplo é o caso do Ministério da Saúde, que foi alvo de uma CPI no
Senado por suspeitas de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19. A
auditoria da CGU identificou R$ 15,9 bilhões em erros contábeis na pasta, sendo
R$ 13,8 bilhões referentes a restos a pagar não processados, ou seja, despesas
que não foram liquidadas nem pagas.
Outro exemplo é o caso do Ministério da Educação, que apresentou R$ 17,1
bilhões em erros contábeis. Um dos pontos mais graves foi o registro indevido
de R$ 124 bilhões como despesa do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o
que afetou o resultado primário do governo e a meta fiscal.
Esses casos mostram que o governo Bolsonaro não teve compromisso com a boa gestão dos recursos
públicos, nem com a qualidade dos serviços prestados à população. Além disso,
revelam a hipocrisia de um governo que se elegeu com o discurso de combate à
corrupção, mas que na prática foi conivente ou omisso diante das denúncias que envolveram seus ministérios. É necessário que se faça uma investigação
rigorosa e imparcial sobre esses erros de contabilidade bilionários, e que os
responsáveis sejam punidos conforme a lei.
Das outras vezes que houveram
denúncias de corrupção no governo, os apoiadores do ex-presidente minimizaram ou negam a gravidade dos erros, alegando que se tratavam de meros equívocos técnicos, que não afetavam a gestão fiscal do governo, ou acusaram
a CGU, a imprensa e a oposição de
agirem com má-fé, com o intuito de desgastar a imagem do governo Bolsonaro,
ou mesmo, até compararam os erros de contabilidade com os casos de
corrupção dos governos anteriores, especialmente do PT, e afirmando que Bolsonaro seria honesto e não tinha envolvimento com os desvios.
Esses discursos sempre revelaram
uma tentativa de desviar o foco das irregularidades apontadas pela CGU e de
manter uma narrativa de que o governo Bolsonaro seria íntegro e perseguido. No
entanto, esses discursos não se sustentam diante dos fatos e das evidências,
que mostram que os erros de contabilidade são graves e podem configurar crimes
contra as finanças públicas.
Para se ter uma ideia da dimensão dos “erros” contábeis no governo Bolsonaro, basta comparar com as “supostas” somas desviadas no governo Lula. Segundo a Operação Lava Jato, o esquema de corrupção na Petrobras teria movimentado cerca de R$ 42 bilhões entre 2004 e 2014. Já os “erros” contábeis no governo Bolsonaro somam quase cinco vezes esse valor, em apenas dois anos. Se Lula foi responsabilizado pelos casos de corrupção no seu governo, por membro do seu governo, a máxima deveria ser válida neste caso, o Bolsonaro também deveria ser responsabilizado pelos erros dos seus ministros.
* Bacharel em Comunicação Social