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Emerson Marinho*
Enquanto o cidadão comum, aquele que sua a camisa
todo mês para pagar as contas e ainda tenta se dar ao luxo de comprar uma blusinha
na Shein, se vê diante de taxas e impostos até onde não imaginava, os mais
ricos do país – os milionários, bilionários, a fina flor do dinheiro – escapam,
mais uma vez, de qualquer tentativa de justiça tributária. A proposta de
taxação das grandes fortunas foi vetada por nossos nobres deputados, aqueles
que dizem representar o "povo" brasileiro. Foram os mesmos deputados
que votaram pela taxação das importações da Shein e de outras lojas
internacionais de baixo custo. Segundo eles, essa era uma questão urgente para
"proteger o mercado nacional", na realidade estão garantindo que a
classe média e baixa continue a pagar cada vez mais enquanto as verdadeiras
fortunas do país permanecem intocadas.
A proposta rejeitada pelos deputados estabelecia
uma taxação para pessoas com rendimentos acima de R$ 10 milhões anuais. Esta faixa
abrangiria apenas os ultra-ricos do país. Entretanto, os defensores das grandes
fortunas, aqueles que sempre falam em "meritocracia" e
"liberdade econômica", não concordam. Segundo eles, "taxar os
milionários inibe investimentos e prejudica a economia". Na realidade, uma
taxa de, digamos, 1% sobre uma fortuna de R$ 10 milhões representa R$ 100 mil.
Para o bilionário, isso é quase um troco de café – mas, claro, é muito mais
fácil tirar 60% do salário de um trabalhador, afinal, ele é quem está
"fazendo a diferença na economia".
No fim das contas, é o cidadão comum quem acaba
pagando, como sempre. Aquela pessoa que compra roupas mais acessíveis na Shein
para economizar, agora vai ter que lidar com uma taxação que tornará essas
compras mais caras, enquanto os donos de grandes fortunas seguem tranquilos,
isentos de qualquer taxação específica. A ironia disso tudo é gritante. É como
dizer para alguém com um salário mínimo que ele precisa contribuir mais para o
país, enquanto o milionário "precisa de incentivos" para continuar
acumulando riqueza.
A verdade é que a recusa em taxar as grandes
fortunas vai na contramão de qualquer tentativa de construir um país mais
justo. Em uma nação onde os índices de desigualdade são alarmantes, onde a
diferença entre ricos e pobres só aumenta, o mínimo que se esperava era uma
tentativa de corrigir essa balança. Mas, claro, para muitos deputados, essa
"balança" já está muito bem equilibrada – afinal, na visão deles,
basta que o pobre trabalhe mais, e ele poderá alcançar os mesmos bilhões.
Quando deputados vetam a taxação das grandes
fortunas, mas aprovam taxar produtos de lojas de baixo custo, eles estão
mandando uma mensagem muito clara para a população: “Você, trabalhador comum,
pode continuar sustentando o sistema. Os ricos? Bem, eles precisam de
proteção”.
Em um país com tantas desigualdades, onde muitos
enfrentam dificuldades diárias para sobreviver, a ideia de que grandes fortunas
não devem ser taxadas é, no mínimo, uma piada de mau gosto. Os argumentos
usados pelos deputados que votaram contra essa taxação são falaciosos e servem
apenas para proteger os mais privilegiados, deixando claro que a "equidade
social" que eles tanto pregam é só para os discursos. Na prática, a única
coisa que continua intacta é o bolso daqueles que menos contribuem com o
bem-estar da sociedade.
Bacharel em Comunicação Social