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24 dezembro 2024

GOVERNO VETA A AMPLIAÇÃO DO BPC ATINGINDO OS MAIS POBRES

Entre responsabilidade fiscal e justiça social, o Congresso decide o futuro de um benefício essencial para os mais vulneráveis.

Emerson Marinho*

Em diferentes momentos, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) tornou-se o centro de debates acalorados sobre políticas sociais e responsabilidades fiscais no Brasil. Tanto no governo de Jair Bolsonaro, em 2022, quanto agora, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2024, o veto presidencial sobre a ampliação do critério de renda para acesso ao BPC gerou discussões que transcendem a administração do programa. Embora o impacto imediato de ambas as decisões seja semelhante — a exclusão de cerca de 500 mil brasileiros, entre idosos e deficientes, que teriam acesso ao benefício caso o limite fosse elevado —, as justificativas e o contexto político de cada governo revelam abordagens diferentes para lidar com o mesmo dilema.

Em 2022, o governo Bolsonaro vetou a ampliação do limite de renda per capita para acesso ao BPC de 1/4 para 1/2 do salário mínimo, proposta que havia sido aprovada pelo Congresso Nacional. A justificativa do então presidente foi essencialmente fiscal: a medida violaria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), já que o aumento de beneficiários teria um impacto significativo no orçamento da União sem a indicação de uma fonte de receita para custeá-lo. A decisão foi amplamente criticada por movimentos sociais e economistas que apontaram para uma postura de insensibilidade diante da população mais vulnerável do país. Para muitos, o veto simbolizou uma priorização de ajustes fiscais em detrimento da proteção social, refletindo a agenda econômica do governo Bolsonaro.

Agora, em 2024, o governo Lula enfrenta o mesmo dilema, mas em um cenário econômico e político distinto. O veto do atual presidente à tentativa do Congresso de elevar o limite de renda para acesso ao BPC também foi embasado em preocupações fiscais, mas a narrativa adotada pelo governo difere significativamente. Lula justificou o veto como uma decisão necessária para preservar o orçamento destinado a outros programas sociais, como o Bolsa Família, que beneficia um número muito maior de brasileiros e possui critérios de acesso menos restritivos. Segundo o governo, manter o limite em 1/4 do salário mínimo garante que os recursos do BPC sejam direcionados às pessoas em situação de maior vulnerabilidade, enquanto possibilita o financiamento de políticas sociais mais abrangentes.

Embora os vetos de Bolsonaro e Lula tenham o mesmo impacto prático — a exclusão de milhares de brasileiros do acesso ao BPC —, as posturas adotadas pelos dois governos evidenciam diferenças significativas. Bolsonaro enfrentou críticas por sua postura considerada excessivamente fiscalista, enquanto Lula busca enquadrar sua decisão como parte de uma estratégia mais ampla de proteção social. Ainda assim, as críticas ao veto atual mostram que, mesmo sob um governo com um discurso voltado à justiça social, a questão orçamentária permanece como um obstáculo à ampliação de direitos para os mais pobres.

O papel do Congresso Nacional também é central nesse debate. Em ambas as situações, foi o Legislativo que propôs a ampliação do critério de renda, mas os vetos presidenciais acabaram prevalecendo. No entanto, a decisão final não está necessariamente encerrada: cabe ao Congresso agora deliberar se derrubará ou não o veto de Lula. Essa decisão dependerá da articulação política entre os parlamentares e da pressão de setores da sociedade civil que demandam maior inclusão social. A história recente, entretanto, mostra que derrubar vetos presidenciais é uma tarefa politicamente desafiadora, sobretudo em um Congresso fragmentado e permeado por disputas de poder.

A esperança é que o Congresso Nacional, com seu papel de mediador entre os poderes, encontre um caminho que equilibre as demandas por justiça social com a necessidade de sustentação fiscal. Afinal, políticas públicas eficazes devem priorizar não apenas o equilíbrio das contas, mas também a dignidade e o bem-estar dos cidadãos mais vulneráveis.

* Bacharel em Comunicação Social