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Dados do Boletim Diário da Secretaria do Governo do Maranhão de 30/05 |
São Luís começa a apresentar os
resultados de 14 dias do bloqueio total, decretado pelo governo do Estado atendendo
à determinação judicial. Após 15 dias do fim do lockdown o número de óbitos e
de novos casos começam a diminuir. Apesar de um pequeno alívio para o sistema
de saúde que beirava o colapso com quase 100% dos leitos ocupados, os números ainda
são preocupantes e revelam a necessidade do poder público e da população
continuarem cumprindo as medidas de distanciamento determinadas pelos órgãos de
saúde nacionais e internacionais, regras básicas de higiene, além do uso de
máscaras e do álcool em gel.
Os últimos dados divulgados pela
Secretaria Estadual de Saúde, mostram que no último dia 30/05, 15 dias depois
do término do lockdown decretado na Ilha, houve uma redução do número de óbitos
na capital, sendo 3 vítimas fatais, mantendo a tendência de queda dos últimos 5
dias, ficando muito longe dos cerca de 30 óbitos registrados no pico. Ainda
assim, o número de novos casos é grande, 287, mesmo apresentando queda e
estando longe do recorde de 856 casos, registrados no Estado dia 08/05, quase
todos concentrados na capital.
O dia 30 de abril marcaria, além da
decretação do lockdown, 40 dias do primeiro caso registrado no Maranhão, ocorrido
no dia 19 de março, quando o governador decretou imediatamente situação de
calamidade pública, suspensão das aulas e o isolamento domiciliar de quem
apresentasse sinais de síndrome gripal. No dia 30, São Luís registraria 1.075
contaminados pelo vírus, correspondendo à 0,097% da população, número que
colocava a capital na 3ª posição no ranking nacional das cidades do país em
relação à taxa de casos para cada 100 mil habitantes. Ficaria à frente também
de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, além de outras, com mais
casos da doença, mas com maior população. Um outro dado preocupante e alarmante
divulgado no mesmo dia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Maranhão
registrava proporcionalmente a mesma velocidade de óbitos que os Estados
Unidos.
O lockdown no Estado
Todos os números alarmantes, levaram
à decretação imediata do chamado lockdown. Requerido pelo juiz Douglas de Melo
Martins, titular da Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís e
decretado pelo governador Flávio Dino, a medida surgi como medida extrema para
conter a pandemia crescente na capital do Estado, refletida no iminente colapso
do sistema de saúde da Ilha, formado pelos municípios da Raposa, São José de
Ribamar, Paço do Lumiar e São Luís. Se naquele momento mais de 90% dos leitos
clínicos e de UTI da capital estavam ocupados, a taxa de mortalidade já havia
chegado a 10,03 e o número de contaminados diários do Estado chegaria nos dias
seguintes à casa dos 856 casos, sendo quase todos concentrados na Ilha. Após o
lockdown um número chama a atenção, atualmente a taxa de mortalidade foi
reduzida à 2,76 e mantendo a tendência de queda percebida a partir do quinto
dia do início do lockdown, quando era de 9,66.
Abertura ensaiada pelo governo
Os números positivos divulgados
pelo relatório diário da secretaria do Estado estão longe de mostrar o controle
da doença no Maranhão. O início do relaxamento das medidas de distanciamento
por parte da população é percebido pelas aglomerações nos centros comerciais. O
governo também vem contribuindo com a abertura gradual de serviços não
essenciais, no momento em que o número de leitos ocupados na Ilha ainda se
mantém em mais de 95% (de UTI), ainda que os clínicos já estejam com apenas 40%
de ocupação. Essa ação do governo passa à população a falsa impressão de
controle da doença na cidade aumentando as aglomerações e o risco do retorno da
crise na saúde.
Número crescente do interior do
Estado
Se de um lado os números revelam-se
positivo na capital, a crise no interior do Estado está apenas no início. Os
números de óbitos no Maranhão ainda se mantêm na casa dos 30 diários, entretanto
as vítimas passaram a se concentrar agora no interior do Estado. Cidades como
Imperatriz, segunda cidade mais populosa do Estado, já registra mais casos de
óbitos que a capital, tendo 5 vezes menos leitos de UTI (já ocupados em quase
95%) e quase 10 vezes menos leitos clínicos (100% ocupados). Enquanto São Luís
registrou 287 novos casos de contaminados no dia 30/05, Imperatriz registrou 77
e os demais municípios registraram 1655 novos casos.
Esses números apontam para dois
graves problemas: os municípios do interior do Estado já não apresentavam,
antes da crise, a mínima estrutura de saúde para garantir a internação de
pacientes com outras comorbidades, com a Covid-19 e a necessidade de internação
de pacientes graves ao mesmo tempo, estará escancarado a escassez de
investimentos na área da saúde e o descaso dos últimos governos com a saúde
pública no Maranhão. Ainda que o atual governo tenha criado hospitais de
campanha em regiões estratégicas para contornar o problema, o número de leitos
ainda está aquém do necessário para atender a quem precisa. Os números divulgados
pela Secretaria do Estado mostram que mais de 80% dos leitos de UTI e clínicos estão
ocupados, isso corresponde a apenas 16 e 49 leitos vagos, respectivamente.
Do outro lado, alguns casos serão enviados
para a capital, processo já iniciado no início da semana (20/05) por meio de
unidades aéreas, o que poderia reabrir o processo de contaminação na capital,
que começa a achatar a curva de morbidade.
De todo o exposto, uma pergunta
fica no ar: Seria o momento do governo do Estado, em decorrência da grave crise
que se avizinha no interior, considerar a decretação do lockdown nos outros
municípios imediatamente?
*Bacharel em Comunicação Social